Professor da PB recebe rim da esposa depois de nove anos de hemodiálise...



“Quer casar comigo?”. Essa foi uma pergunta que Roberto Flávio esperou doze anos para fazer a Shirley. Vivendo juntos em João Pessoa, mas não casados oficialmente, marido e mulher foram por 12 anos companheiros de vida. Com um rim sem funcionar devido a uma insuficiência renal, Roberto esteve refém da hemodiálise durante nove destes anos. A felicidade veio há 20 dias, quando descobriu que Shirley poderia ser sua doadora. Com um rim novo e ligados agora também pelo corpo, Shirley aceitou doar também o coração. Foi pedida em casamento e agora, além de unidos pelo corpo, estão também unidos pelo amor.

A doação tinha tudo para dar errado, como conta Roberto, mas o resultado não poderia ter sido melhor. Há nove anos, Roberto Flávio, de 39 anos e professor de história, descobriu que apenas um rim funcionava dentro do seu organismo. A partir dessa notícia, ele entrou num processo longo de hemodiálise para retirar as impurezas do seu corpo, já que todo o líquido que consumia recebia destino perigoso: o sangue. Roberto passou nove anos frequentando o hospital três vezes na semana, quatro horas por dia. Fazia parte da sua rotina e do seu corpo. Ele só funcionava sem reações ruins se estivesse ligado a uma máquina.
Desde a descoberta da insuficiência renal, Shirley das Neves, companheiro de Roberto, se disponibilizou para doar o seu rim. Por medo do que pudesse acontecer com ela, Roberto preferiu esperar um doador na fila da doação de órgãos. Todos os anos, o professor de história criava uma nova meta para a família que, até então, não era oficial. Dessa forma, conseguia fazer com que Shirley esquecesse um pouco a loucura de dividir seu rim com ele. Nove anos se passaram e Roberto nunca saiu da posição que estava na fila. Com sangue O- tudo ficava mais difícil.

Como tudo aconteceu
Shirley queria fazer a doação e foi em busca de informações. Descobriu que a chance da compatibilidade era nula. Mas com sangue O+ o cenário poderia mudar para melhor. Quase pronta para o próximo passo, que seria a realização dos exames, uma novidade chegou para reanimar a família: um filho, que já era esperado há muitos anos.
Nasceu Nohan, que hoje tem um ano de idade, e junto a ele surgiu a vontade de Roberto de estar cada dia mais vivo para vê-lo crescer. “Quando Nohan nasceu, eu já senti aquele medo de deixá-lo. A hemodiálise, a cada dia que passa, você fica mais debilitado”, contou. “A partir do momento que ele tivesse a vida dele de volta, nós teríamos as nossas vidas de volta”, completou Shirley.

Roberto precisava de um rim, Shirley queria ser a doadora. Com a vontade de fazer a família se desenvolver saudável, esqueceram os medos e apreensões. Com todos os exames realizados, depois de nove anos, Roberto e Shirley se tornam unidos pelo corpo. Ela doou um rim que não era indispensável para a sua vida. Ele recebeu tudo que lhe faltava.
Quando Nohan completou um ano, Roberto nasceu de novo. Recebeu o rim de Shirley e mesmo com chances nulas de compatibilidade, tudo deu certo. O rim começou a funcionar assim que o transplante foi concluído. A recuperação de Shirley foi mais rápida que o esperado. A de Roberto, uma surpresa. Deu adeus à hemodiálise e hoje se sente livre. “Saber que hoje eu posso tomar água, isso é uma vitória”, Roberto lembra. Devido ao problema, ele bebia cerca de 200ml de líquido por dia.

Sonhos realizados
Viver saudável, sem a necessidade de uma máquina para auxiliar o corpo, era um desejo que os anos tornaram rotina. Mas casar e oficializar a união que foi feita há doze anos era o grande sonho de Shirley. Agora, com o problema de saúde resolvido, o sonho poderia se tornar real. “Hoje somos unidos por um corpo só. Pelo resto da vida”, disse Roberto.
Para transformar tudo numa história mais bonita e unir as boas novas, na segunda-feira (5), Roberto pediu a mão de Shirley em casamento, numa surpresa que a deixou emocionada. Agora estão unidos de corpo, coração e alma.

“Hoje a gente é ligado por um corpo só. Hoje a gente tem o maior presente das nossas vidas, o nosso filho. Ele já tem o nosso sobrenome. Mas falta eu dar meu sobrenome a você. Falta eu saber se a gente vai viver para vida toda. Eu gostaria de saber se você aceita meu sobrenome, se você aceita casar comigo”, Roberto se declarou. “Sim, claro”, Shirley respondeu, surpresa, mas completamente feliz. “A gente não tinha ainda aliança no dedo, mas a gente sempre teve aliança no coração”, lembrou Shirley.
Por ter sido tão feliz com o sucesso da doação, Roberto quer apenas servir de exemplo para os outros. “Mesmo vivo é possível salvar vidas”, ressaltou. Deseja que a história sirva não apenas de inspiração, mas principalmente de incentivo, de força e coragem para quem precisa apenas de um empurrão para se tornar um doador. Ele precisou esperar nove anos para receber o rim cuja ausência o fazia incompleto. Mas com a ajuda de todos, esse tempo pode diminuir para quem ainda espera na fila.

g1

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