REPORTAGEM DO FANTÁSTICO: Delator relata esquema milionário de propina envolvendo Ricardo Coutinho, ex-governador da PB...



Show do Roger Waters em São Paulo, 2018. Desfile das escolas de samba do Rio, 2012. Nos dois eventos, o ex-governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), esteve presente. Mas as despesas não foram pagas com dinheiro do bolso do líder político do Partido Socialista Brasileiro (PSB). Os detalhes do esquema de corrupção milionário estão na delação do empresário Daniel Gomes, líder da Cruz Vermelha Brasileira, que tinha contratos com o Governo da Paraíba na área da saúde. Durante todo o período em que esteve envolvido no esquema, ele carregava um gravador escondido em boa parte das conversas com Coutinho. As informações foram reproduzidas em reportagem do programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão, na noite deste domingo (22).

O empresário começou a gravar o então governador em 2010 e seguiu registrando tudo até o final de 2018. A Polícia Federal e o Ministério Público tiveram que analisar mais de mil horas de reuniões e pedidos de propina. Segundo as investigações, o esquema começou em 2010, quando Daniel afirma ter dado pelo menos R$ 200 mil à campanha de Ricardo Coutinho.
'A gente não pode concluir que numa conversa gravada há tantos anos, por exemplo, aquilo ali implique necessariamente num ato de corrupção, ate porque são valores estratosféricos, e o ex-governador não tem patrimônio declarado', disse o advogado de defesa do ex-governador, Eduardo Cavalcanti.

COLABORAÇÃO
A reportagem do Fantástico inicia com uma conversa entre Daniel Gomes e Ricardo Coutinho, em agosto de 2017, relativa ao interesse do ex-governador de participar de um show da banda U2, em São Paulo, que aconteceria dois meses depois. No diálogo, o socialista busca supostamente o acesso à apresentação com custos geridos pelo empresário.

RICARDO:
– Show do U2 que eu queria ir, em São Paulo.

DANIEL:
– Show do U2. Eu acho que até eu conseguia para um dia.

O LÍDER
O empresário Daniel Gomes foi preso em dezembro de 2018, na primeira fase da Operação Calvário, no Rio de Janeiro. Dias depois, ele fez colaboração premiada, e, hoje, responde o processo em liberdade.

'O Ricardo é o líder, isso indiscutivelmente', disse o empresário em conteúdo da delação reproduzido na reportagem.

A BASE DA PROPINA
Daniel explica na colaboração que fez aportes financeiros antes da campanha eleitoral que elegeu Ricardo Coutinho para o primeiro mandato de governador da Paraíba. Depois da vitória nas urnas em 2010, o empresário conseguiu formalizar contratos superfaturados e fraudulentos com o ex-governador.

Ele detalhou ainda como funcionava o esquema de repasse de propina. Segundo o empresário, 10% era o valor médio pago ao ex-governador Ricardo Coutinho e outros agentes públicos envolvidos no suposto esquema fraudulento, após cada novo contrato assinado com o Governo do Estado.

DANIEL:
– Eu consigo trabalhar seguramente com 10%. Esse número é bem seguro.

RICARDO:

– Mas isso no início ou no fim?

DANIEL:

– Posso fazer quando o senhor fizer a primeira entrada aqui. Eu já consigo viabilizar parte, posso adiantar.

Numa conversa, o ex-governador demonstra presa para receber a propina.

DANIEL:
– Depois só me diz como é que eu faço.

RICARDO:
– O mais rápido possível que você possa, certo?

DANIEL:
– Tá.

'Cada fato trazido pelo colaborador teve que ser, de forma minuciosa, analisado e confirmado com documentos, e com a realidade dos fatos', disse o delegado Vitor Moraes Soares, da Polícia Federal.

Durante os dois governos de Ricardo Coutinho, Daniel Gomes fechou contratos que totalizaram R$ 1,25 bilhão. Em novembro de 2017, o empresário falou pessoalmente com o governador sobre dois repasses de propina, cada um no valor de R$ 1,5 milhão.

DANIEL:
– Então, governador. Eu já tô com 1.5 disponível. O outro 1.5, eu acho que no início de janeiro.

RICARDO:
– Livânia tá sabendo disso?

DANIEL:
– Não.

Ricardo Coutinho se referia a Livânia Farias, ex-procuradora-geral do Estado e ex-secretária de Estado da Administração, presa em março deste durante fase anterior da Operação Calvário, mas que responde ao processo em liberdade. Ela fez colaboração premiada e revelou detalhes do envolvimento do ex-governador.



ESQUEMA NA EDUCAÇÃO
Com o sucesso do esquema na área de saúde, o ex-governador resolveu expandi-lo para a área de educação. A reportagem mostra o exemplo de um superfaturamento de 450% registrado na compra de uma agenda que saiu para o Governo da Paraíba pelo valor de R$ 20, enquanto que para outros estados, o mesmo material custava R$ 3,60.

'Nós temos empresas que os contratos só com elas chegavam a R$ 90 milhões, tudo para livros, material gráfico, sempre de forma irregular', Severino Queiroz, superintendente da Controladoria Geral da União.

A ex-secretária Livânia Farias falou sobre uma propina paga em 2018, com dinheiro desviado justamente da educação.

LIVÂNIA:
– Entreguei ao governador Ricardo Coutinho. Era um valor de R$ 800 mil reais.

INTERLOCUTOR:
– Nas mãos dele?

LIVÂNIA:
– Nas mãos dele.

Ainda segundo Livânia Farias, houve ainda outra entrega de propina proveniente da Educação, no valor de R$ 1 milhão, que foi repassado em uma caixa de vinho, em agosto de 2018.

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