Bicicleta ‘acompanha’ trajetória de 54 anos de casal e vira relíquia para família da PB...


A história do casal José Félix Almeida (Zezinho) e Luzinete Lucena começou com o consentimento do pai dela para o namoro dos dois, lá pela década de 1950, mais precisamente em 1955, na cidade de Itabaiana, no Agreste paraibano, a 89 quilômetros de João Pessoa. Do namoro ao casamento passaram-se quatro anos.

A relação que começava ali coincidiu com a aquisição feita por Zezinho de uma bicicleta usada, de origem inglesa, e que mais tarde seria testemunha de muitos acontecimentos e viraria um verdadeiro xodó para o casal. Na época, Zezinho possuía outra bicicleta, que serviu de ‘entrada’ para a troca feita com um casal de amigos moradores de Itabaiana.

Durante todo o namoro, Zezinho utilizava a companheira inseparável para visitar a amada, pois morava em um distrito distante 20 minutos do Centro da cidade. A ‘magrela’ também era cúmplice dos passeios, momentos de lazer e de várias juras de amor trocadas pelo casal.

Em 1959, Zezinho e Luzinete subiram ao altar na Igreja Matriz de Itabaiana e passaram a morar em uma casa alugada, onde nasceram as suas duas primeiras filhas. A bicicleta, claro, seguiu o casal.

Como era costume nessa época, as crianças nasciam em casa com o auxílio de uma parteira, pessoa experiente e da confiança da família que auxiliava nos partos das gestantes. Quando chegava o dia de Luzinete dar à luz, lá ia Zezinho buscar a parteira de bicicleta para apressar a chegada em sua casa.

Assim a família foi aumentando e a bicicleta continuava ali, firme e forte, disposta a servir, agora, aos quatro.

Na foto, abaixo Seu Zezinho aparece com uma das filhas, em João Pessoa.  

Como eram servidores na mesma repartição pública e não possuíam outro meio de transporte, Zezinho e Luzinete sempre iam juntos de bicicleta para o trabalho. De manhã cedo, o casal deixava as duas meninas na casa da avó materna e seguiam para trabalhar. Essa era a rotina deles, todos os dias, fizesse chuva ou sol.

E por falar em chuva, essa era a única hora em que Dona Luzinete não gostava muito de andar na bicicleta. Ela lembra que no período invernoso, ela e o esposo usavam um guarda-chuva para poder sair de casa. “Era um pouco difícil, pois Zezinho tinha que guiar a bicicleta e eu me equilibrar com o guarda-chuva na mão”, contou.

Em 1966, por motivos de saúde, Zezinho e Luzinete tiveram que se mudar para João Pessoa, onde passaram a morar e trabalhar. Foi lá que a terceira filha do casal nasceu. Se antes a bicicleta já era útil, na ‘cidade grande’ era quase que indispensável, ainda mais por que no fim da década de 1960 e começo dos anos 70, Luzinete iniciou os estudos no curso superior de Ciências e, mais tarde, no de Administração, na Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

Luzinete recordou dos tempos difíceis em que tinha que conciliar o trabalho com os estudos e os afazeres de casa, principalmente no cuidado com as crianças. “Nessa época saía do trabalho e ia direto para a faculdade, mas na volta Zezinho me pegava todos os dias de bicicleta em um ponto de ônibus”, comentou.

Em 1979, o casal comprou o primeiro carro da família, uma Brasília, mas nem por isso a bicicleta foi deixada de lado. A velha companheira era ‘convocada’ para os passeios nos fins de semana e nas visitas que Zezinho fazia a parentes e amigos. Foi nela também que Josinete, a primogênita da família, aprendeu a andar de bicicleta. O pai era quem se encarregava de dar as aulas.

Dona Luzinete lembra que desde o tempo em que moravam em Itabaiana não faltaram pretendentes para comprar a bicicleta. “Muita gente apareceu para comprar nossa bicicleta, mas Zezinho tinha um carinho especial por ela e dizia que nunca iria vendê-la. Ele até brincava quando falava que tinha mais ciúme da bicicleta do que da própria mulher”, recordou.

Zeloso, Zezinho cuidava do carro com o mesmo carinho que tinha pela bicicleta, mas sem apego nenhum e sempre que podia, tratava de trocar o automóvel por um que julgava melhor. Isso acontecia a cada três ou quatro anos após a compra do carango. Quanto à magrela, ela continuava ali do mesmo jeitinho, pois não tinha proposta alguma que fizesse Zezinho cogitar sua venda.

Em 2009, com o falecimento de Zezinho a bicicleta ocupou um espaço ainda mais especial no coração de Dona Luzinete. Era mesmo que ver o velho companheiro, com quem estava casada havia 50 anos. Afinal de contas, estava ali, materializada, toda a história do casal, desde o namoro, até os últimos dias em que permaneceram juntos.

Após a morte do marido, Dona Luzinete mudou-se para um apartamento. Dentre os requisitos para a compra do imóvel, ela buscava um que possuísse uma ampla sala para guardar a relíquia. E é assim que ela a mantém, num cantinho da sala, próximo ao lugar do sofá onde Zezinho se sentava para assistir à TV ou conversar.

A bicicleta também passou por uma reforma para ficar do jeito que Zezinho gostava: ‘novinha em folha’. Ela recebeu uma pintura nova, teve algumas peças substituídas e até um adesivo com o nome do casal.

‘Bicicleta-cupido’

Dos momentos inesquecíveis que viveu ao lado do marido, Dona Luzinete lembra da época da faculdade quando os dois e alguns colegas deram uma ‘forcinha’ para o início do namoro entre os amigos Pedro e Gracinha.

O namoro dos dois deu tão certo que eles se casaram e tiveram três filhos, mas engana-se quem pensa que a bicicleta de Zezinho e Luzinete ficou fora dessa história. Pois é, no grande dia, a noiva se arrumou na casa de Luzinete, quem convidou para ser madrinha de casamento. A ida ao cartório, que ficava a alguns quilômetros da residência de Luzinete, não poderia ser de outra forma, que não fosse de bicicleta. A tarefa, no entanto, coube ao padrinho Zezinho.

“E lá se foram 43 anos dessa história que também marcou a nossa vida. Foi um momento especial, que pudemos compartilhar com nossos amigos, principalmente num dia tão importante para eles, como foi o casamento”, contou.

Planos para o futuro

O próximo projeto de Dona Luzinete é preparar um suporte na parede da sala para colocar a estimada bicicleta num lugar ainda mais privilegiado. “Vou providenciar o suporte para que a bicicleta fique lá, sempre guardadinha e perto da gente”, arrematou.

Fonte: Por Alexandre Freire

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