A primeira fase da vacinação em massa terminou, neste domingo (14), em Serrana (SP), com 97,3% do público-alvo imunizado. Segundo o balanço divulgado pelo Instituto Butantan, em quatro semanas, 27.619 pessoas das 28.380 inscritas receberam a primeira dose da vacina contra a Covid-19.
Primeira cidade brasileira a ter toda a população adulta imunizada, Serrana foi escolhida pelo Butantan para um estudo inédito sobre a eficácia da CoronaVac em populações inteiras.
Distante 315 quilômetros de São Paulo, o município tem 45.644 habitantes, dos quais 30 mil estavam aptos a receber o imunizante.
Integrante do grupo de pesquisa, o médico hematologista do Hospital Estadual de Serrana, Pedro Manoel Marques Garibaldi, diz que a adesão da população superou as expectativas.
“Esperávamos em torno de 80% da população vacinada nesse grupo com mais de 18 anos, e a gente está atingindo hoje 97%. Superou nossa expectativa e vamos conseguir ter os dados, o número é suficiente para o estudo.”
Imunizados na 1ª etapa
Total de inscritos: 28.380 pessoas
Grupo verde: 6.225 vacinados de 7.071 inscritos (88%)
Grupo amarelo: 6.703 vacinados de 6.720 inscritos (99,7%)
Grupo cinza: 5.847 vacinados de 6.319 inscritos (92,5%)
Grupo azul: 8.321 vacinados de 8.270 inscritos (100,7%)
O estudo dividiu os voluntários em quatro grupos e a campanha teve início no dia 17 de fevereiro.
Ao todo, o Butantan reservou 66 mil doses para a primeira e a segunda aplicação. O lote, segundo o instituto, não interfere o fornecimento de vacinas para o Plano Nacional de Imunização (PNI), do governo federal.
Objetivos do estudo
Ao contrário do restante do Brasil, onde a vacina tem chegado primeiro aos grupos prioritários, em Serrana, as doses chegaram para toda a população adulta porque, em 2020, a cidade foi escolhida para participar de um estudo inédito do Instituto Butantan – o Projeto S.
O objetivo, segundo o centro de pesquisa, é analisar o efeito da vacina aplicada em populações inteiras. Os pesquisadores querem saber se ela é capaz de reduzir a transmissão do vírus, o que pode levar à queda de novos casos e, consequentemente, à redução das internações e de mortes.
Os estudos sobre a eficácia da CoronaVac foram feitos com grupos menores de voluntários, e com menor diversidade de perfis do que a população toda de uma cidade. Por isso, o estudo de Serrana é tão importante.
Impacto na transmissão
De acordo com dados da Fundação Seade, desde o dia 17 de fevereiro, quando teve início a aplicação, 611 moradores testaram positivo para o novo coronavírus e houve sete mortes.
O médico hematologista estima que a mudança na curva epidemiológica da cidade diante da vacina só começará a ser observada após a aplicação da segunda dose, quando se completa o ciclo.
“A gente sabe que a imunidade vai ser completa depois da segunda dose, então isso é até importante para a gente não tirar nenhum dado precoce e para não desmobilizar a população de fazer a segunda dose. A gente não conseguiu observar, ainda, dentro da cidade de Serrana, uma queda de número de casos que se justificasse pela vacina, até por ser muito precoce. Estamos completando a quarta semana e ainda não conseguimos avaliar uma redução”, diz Garibaldi.
Os resultados do estudo devem ser conhecidos em maio, segundo o Butantan.
Um dos motivos para a escolha da cidade é o fato de que ela serve como dormitório a cerca de 10 mil moradores que trabalham em municípios vizinhos, principalmente em Ribeirão Preto (SP). O pesquisador afirma que a exposição dos vacinados às pessoas que ainda não receberam a primeira dose também vai ajudar a compreender a eficácia do imunizante.
"Eu não acredito que essa demora em outras cidades [para vacinar] vá prejudicar o estudo, pelo contrário. Eu acho que vai conseguir dar um comparativo e, por essas pessoas que circulam bastante, demonstrar de uma forma ainda mais efetiva a eficácia da vacina."
Reforço vacinal
Garibaldi afirma que a segunda fase da campanha, prevista para ter início no dia 24 de março, será determinante para os rumos do estudo. Para isso, durante a primeira etapa, um trabalho de comunicação foi desenvolvido para que os voluntários não percam o prazo e voltem aos postos de imunização nas próximas semanas.
"Como a gente tem todas essas pessoas cadastradas, a gente encaminha mensagens mobilizando para que elas realizem a segunda dose naquela semana adequada, qual colégio. Assim como na primeira dose, a gente vai repetir isso. Na primeira dose a gente reforça muito a importância da segunda, para não ter esse ambiente de que tomou a primeira dose e está imune. A gente sabe da importância que a segunda dose tem."
De acordo com o médico, o centro de monitoramento do Projeto S também consegue identificar áreas da cidade que estão com menor adesão, a fim de desenvolver estratégias que mobilizem a população, o que também será repetido na segunda fase.
O tempo de espera para aplicação da segunda dose nos postos deve ser menor, uma vez que termos de consentimento já foram assinados e exames de sangue, por exemplo, só serão repetidos em mulheres, por causa da possibilidade de gravidez, fator excludente para a vacinação.
Circulação de nova variante
Ao mesmo tempo que mede a eficácia da CoronaVac na queda da transmissão do coronavírus, a pesquisa analisa, de forma secundária, a dinâmica do imunizante contra as novas cepas.
Recentemente, um estudo do Hemocentro de Ribeirão Preto apontou que a variante brasileira já circula na cidade. Na semana passada, o diretor do Butantan, Dimas Covas, disse que a CoronaVac é eficaz contra as novas cepas.
Para isso, amostras de moradores que testam positivo têm sido encaminhadas para sequenciamento genético, para identificação do RNA do vírus.
"A gente tem feito sequenciamentos periódicos dos participantes do estudo e a ideia é que isso seja feito nos próximos meses. A gente vai fazendo o sequenciamento de todos os casos positivos que acontecem em Serrana para conseguir mapear e saber a eficácia pegando um grupo, pegando uma cidade toda, saber a real eficácia da CoronaVac para essas variantes."